domingo, 13 de novembro de 2011

Salvador sedia Encontro Ibero-Americano dos Povos Afrodescendentes


O Afro XXI vai reunir 12 chefes de Estado em debates sobre combate ao racismo

A cidade que tem a maior população de afrodescendentes fora da África será durante quatro dias o centro das atenções dos debates mundiais acerca de políticas de combate ao racismo, à xenofobia e à discriminação e à intolerância raciais. Salvador recebe a partir do próximo dia 16 de novembro chefes de Estado, gestores públicos, representantes de organizações da sociedade civil, artistas e pesquisadores envolvidos com a questão racial para participar do Encontro Ibero-americano dos Povos Afrodescendentes (Afro XXI). Além da presidente Dilma Rousseff, são esperados outros 11 chefes de Estado.



A programação começa com o fórum de entidades da sociedade civil, que tem o objetivo de formular propostas a serem submetidas aos chefes de Estado, que se reúnem no fechamento do evento, dia 19. Dias 17 e 18, os debates serão conduzidos por especialistas com a participação de representantes governamentais e de entidades ligadas a cada tema. Entre os assuntos em destaque estão “Racismo e representação midiática“, “Marcos legais antirracistas e acesso à Justiça” e “Censos e estatísticas das desigualdades raciais: da constatação às políticas públicas“.

Quem quiser assistir ao que será debatido nas mesas de discussões, a Fundação Pedro Calmon, em parceria com a Universidade Federal da Bahia, vai oferecer a retransmissão dos debates nos dias 17 e 18, em salas do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, no Largo Dois de Julho. A parceria visa atender aos interessados que não conseguiram inscrição presencial no evento ou que morem, trabalhem ou estudem no Centro de Salvador.

Festival de Culturas Negras

Além da presença de especialistas e representantes de organismos e governos de diversos países, Salvador será também agraciada com uma ampla programação cultural. Os palcos do Pelourinho abrigarão um festival de música afrodescendente paralelo ao evento. A programação está sendo montada pela Secult com as contribuições dos países participantes do Afro XXI.

Atrações de vários países se juntarão com artistas locais para traçar um panorama da música afro no mundo. Os eventos serão abertos ao público e gratuitos. A única exceção será o show que Gilberto Gil fará junto com a cantora e ministra da Cultura do Peru Susana Baca para os chefes de Estado que se reunirão no último dia do encontro.

Durante o Aro XXI o secretário Albino Rubim vai anunciar a realização do I Festival de Culturas Negras. O encontro está previsto para agosto de 2012 e irá movimentar espaços culturais de Salvador e do Recôncavo baiano. “A Bahia é reconhecida, nacional e internacionalmente, como um lugar privilegiado em criação cultural. Nossas dinâmicas populares, com destaque para a afro-baiana e a sertaneja, perpassam de modo substantivo a cultura brasileira. É isso que queremos mostrar”, afirma Rubim.

Esforço conjunto

O Afro XXI também faz parte da comemoração dos dez anos da Conferência Mundial das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, que ocorreu em Durban, na África do Sul. A partir desse evento, as políticas públicas nessa área ganharam impulso em vários países participantes, inclusive no Brasil, onde foi criada em 2003 a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), com uma série de ações efetivas. A reunião em Salvador vai celebrar as contribuições dos descendentes de africanos para a América Latina e o Caribe. Quem quiser participar do Afro XXI pode se inscrever até 13 de novembro pelo site www.funag.gov.br/afro21.

O encontro é uma parceria da Secretaria Geral Ibero-americana (Segib) com o governo brasileiro, através da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) e do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Também fazem parte o Governo do Estado da Bahia, representado pelas secretarias de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), de Cultura (Secult), e de Relações Internacionais (Serinter), além da Organização das Nações Unidas (ONU), da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid), e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Para o secretário de Promoção da Igualdade Racial da Bahia, Elias Sampaio, “o povo de Salvador, que tradicionalmente se identifica como afrodescendente e tem um sentimento de pertencimento a essa esfera cultural terá agora mais um motivo para fortalecer ainda mais esse reconhecimento”. Ele acredita que uma das propostas a serem aprovadas no encontro é a de transformar Salvador na “capital afrodescendente das Américas”. “Essa definição poderá dar ainda mais força ao trabalho transversal de combate ao racismo e de promoção da igualdade no nosso estado”

A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, ressaltou que esse é o momento de avaliar os documentos que foram produzidos em Durban e fazer um balanço dos avanços obtidos, recomendando novas estratégias para a superação do racismo e da discriminação racial. “Esperamos que as conclusões obtidas em Durban sejam refletidas no documento que será produzido pela sociedade civil e os chefes de Estado”, disse a ministra, referindo-se à Carta de Salvador, que será produzida durante o evento.

 

Carta de Salvador

Durante o evento será produzida a Carta de Salvador, declaração que apontará às regiões participantes, uma agenda comum para os próximos anos capaz de assegurar a inclusão plena de dezenas de milhões de cidadãos e cidadãs afrodescendentes. O documento resultará do debate entre os chefes de Estado presentes com as contribuições do fórum das entidades da sociedade civil e das plenárias ocorridas durante toda a programação. São aguardados 12 chefes de Estado, dentre eles a presidenta Dilma Rousseff, além de representantes dos demais países participantes.

Para o secretário de Promoção da Igualdade da Bahia e anfitrião do evento, Elias Sampaio, “existe a expectativa, a ser discutida e confirmada durante o encontro, de escolher Salvador como a capital afrodescendente ibero-americana. Isso seria muito justo não só por sermos a cidade com maior população de origem negra fora da África, mas principalmente pelo fato de que nos reconhecemos como afrodescendentes do ponto de vista cultural”, avaliou.

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